sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Surge uma nova safra de lideranças na política tradicional paraibana

Desde a abertura democrática a Paraíba sempre foi governada por setores que surgiram para política com um lastro no campo do pensamento da elite estadual. Essa concepção passava pela defesa do latifúndio, pelo atrelamento dos interesses do Estado aos interesses de grupos empresariais, paraibanos ou não, por íntimas relações políticas e comerciais com setores da mídia estadual, pelo patrimonialismo, pela violência e autoritarismo nas relações com os movimentos sociais e por uma falta de políticas públicas, principalmente no campos da saúde e educação. Entretanto, dialeticamente, ao passo que a elite estadual consolidava seu poder, com suas diferentes lideranças (Braga, Burity, Cunha Lima e Maranhão), crescia e se consolidava uma outra política que surgia de baixo para cima, das fábricas para as ruas, das escolas para a luta social. Essa nova política era representada por um ideário libertário, socialista e que tomava corpo na defesa da transparência, da participação popular nas decisões de governo, na defesa dos serviços públicos acessíveis à todos. Enquanto a política tradicional formava novos lideres como Cássio C. Lima, Vitalzinho, Veneziano, Cicero Lucena, Ruy Carneiro, Manuel Júnior etc., o campo da esquerda forjava seus líderes nas grandes lutas das décadas de 80 e 90 por inclusão social, contra a privatização, e em defesa da ética na política. Entre estas lideranças destacaram-se Simão Almeida, Renô Macaúbas, Cozete Barbosa, Chico Lopes, Avenzoar Arruda, Júlio Rafael, CBS, Luiz Couto e Ricardo Coutinho. Hoje passados mais de 25 anos da redemocratização, o campo de esquerda conquistou mandatos parlamentares e assumiu prefeituras em Campina Grande e João Pessoa, porém qual é o saldo que temos de tudo isso? Até a eleição de Lula a trajetória dos parlamentares de esquerda na Paraíba foi de combate aos interesses dominantes em nossa sociedade. Depois de ganhar a presidência o PT, e seus parlamentares, incorporou parte significativa da políticas das elites brasileira e paraibana, o que se refletiu nas atuações de suas bancadas federal e estadual. No campo da administração pública, a decepção é a tônica. Primeiramente com o fracassado governo petista em Campina Grande e, mais recentemente, com as experiências dos ex-petistas Ricardo Coutinho e Luciano Agra, atualmente no PSB, à frente do governo do Estado e da prefeitura de João Pessoa, respectivamente. Se é verdade que pela primeira vez na nossa história temos lideranças, forjadas na luta social, no comando político paraibano, também é verdade que a política posta em prática por esses senhores, não mais representa os sonhos que levaram milhares de pessoas a construí-los como referência para a construção de uma nova Paraíba. De fato, quando olhamos os grandes embates dos governos Ricardo Coutinho na Paraíba e Luciano Agra em João Pessoa, percebemos que os temas centrais no ano de 2011 foram perseguição, intolerância e falta de diálogo com os Professores, Policiais, Médicos; a defesa intransigente da terceirização do hospital do trauma em João Pessoa e, também, da permuta de um terreno no Geisel que originalmente pertencia ao Estado por um outro terreno também do Estado, e bem mais valorizados, em Mangabeira para favorecer um grupo empresarial. A tudo isso, soma-se ainda o projeto de lei da terceirização (diga-se privatização), que o prefeito de João Pessoa aprovou na Câmara de Vereadores, contrariando totalmente a sociedade civil organizada que se colocou contrária a essa política. Afinal pra quem governa o PSB? Será que Ricardo e Luciano Agra estão certos e os movimentos sociais estão todos errados? Quero concluir lembrando que esse conjunto de políticas de governo discutidas no parágrafo anterior guarda muito mais relação com o fazer política das elites tradicionais, do que com os projetos coletivos idealizados por àqueles que nos anos 80 e 90 serraram fileira nas lutas por transformações sociais na Paraíba. Lembro ainda, que ceder a administração dos serviços públicos às chamadas Organizações Sociais (como fez Ricardo no Hospital do Trauma e Agra quer fazer no trauminha de mangabeira) é parte do projeto político do PSDB já implementado em São Paulo, onde a última novidade foi ceder vaga dos hospitais públicos para clientes dos planos de saúde, enquanto os segurados do SUS morrem nos corredores dos grandes hospitais. É lamentável, mas encerro esse texto afirmando que aqueles que foram eleitos sob o manto de um projeto progressista, hoje se transformaram nos principais defensores da nossa política tradicional. O PSB no governo representa mais do mesmo na política paraibana. É hora de fortalecermos um novo ciclo de lutas e resistências. Nelson Júnior